Recentemente, nossa diretora executiva Cíntia Januária, despachante aduaneira e especialista em comércio exterior, cedeu uma entrevistada ao Estadão para relatar sobre o impacto da pandemia de COVID-19 sob as importações, mais especificamente na importação de produtos médico-hospitalares. Você pode baixar a matéria aqui ou acessar o link no final desse artigo.
Abaixo, a íntegra da entrevista. Confira:
Pela experiência de consultoria de vocês, como está a importação de produtos médico-hospitalares após a crise causada pela covid-19? O ritmo de operações segue o mesmo, cresceu, subiu?
Ela está bem dificultada por conta dos fornecedores, das ofertas de voos, do alto preço (não só o custo da mercadoria como de todo o processo, que aumentou muito), além do prazo de entrega, ultrapassando os 90 dias na maioria das vezes. Mesmo as empresas com grande poder de barganha não têm conseguido êxito em suas importações rotineiras. As grandes importações trazidas pelo Governo Federal é o que tem chegado, com negociações envolvendo até o consulado do Brasil na China, por exemplo, e algumas mercadorias que já estavam em linha de produção antes da pandemia.
O Brasil é importador líquido de produtos médicos-hospitalares, mas como está organizado o mercado? O número de importadores é pulverizado em pequenas e médias empresas ou há uma concentração de poucos e grandes importadores?
É bem pulverizado, sim. Inclusive, esses importadores representam cerca de 70% dos nossos clientes.
As grandes multinacionais com filiais no Brasil também são grandes importadoras?
Sim. Na maioria delas, em algum momento da sua cadeia de produção, tem sempre algum insumo ou material que advém do exterior. O Brasil não é autossuficiente nesta área.
Desde que se agravou a pandemia, o governo federal anunciou a suspensão de tarifas de importação em 177 produtos e disse que facilitaria a importação. Como está isso na prática nos portos e aeroportos? A burocracia para liberar os importados foi reduzida? Há entraves ainda?
Efetivamente tivemos a redução do imposto de importação, sim. Em alguns produtos específicos, tivemos a suspensão da licença de importação (LI) por parte da ANVISA. No restante do processo (liberação alfandegária), não percebemos nenhuma otimização do processo por parte da Receita Federal. As importações específicas, destinadas ao Governo Federal, houveram sim, uma agilidade, agora, as demais, destinadas a outros importadores, continuam da forma que está.
Comparativamente com outros países, o Brasil é mais burocrático ou menos burocrático nas regras de comércio exterior para produtos médicos-hospitalares?
O Brasil é mais burocrático porque ainda herda parte do conceito de nação protecionista. Na minha opinião, os órgãos de controle ainda possuem algumas metodologias defasadas, que não estão adequadas para a dinamicidade que se tornou o processo de importação e exportação em um mundo globalizado. Claro, houveram melhorias de uns tempos pra cá, pois o fluxo cresce muito a cada ano e demandam ação de interesse direto do governo em termos de arrecadação, mas acho que uma revisão ou modernização desses processos traria mais oportunidades para o Brasil crescer e ser visto com bons olhos aos investidores, afinal de contas, o comércio exterior é a porta de entrada para os grandes investimentos no país.
Especificamente, na questão médico-hospitalar, a burocracia da ANVISA ainda é grande. A impressão que dá é que este órgão precisa, não só ter conhecimento da área de saúde, mas ter um melhor conhecimento de toda a cadeia que envolve uma importação para agir de acordo.
Repórter: Vinicius Neder, O Estado de S. Paulo, 20 de abril de 2020.
Confira a matéria do Estadão aqui: